Irrealidade
[...] Se me pergunta
pessoas, datas,
pequenas coisas
gratas e ingratas,
cifras e marcos
de quando e de onde
- a minha fala
tão bem responde
que todos crêem
que estou na sala. [...]
1
Minha primeira lágrima caiu dentro dos teus olhos.
Tive medo de enxugar: para não saberes que havia caído.
No dia seguinte, estava imóvel, na tua forma defitiva,
modelada pela noite, pelas estrelas, pelas minhas mãos.
Exalava-se de ti o mesmo frio do orvalho; a mesma claridade da lua.
Vi aquele dia levantar-se inutilmente para as tuas pálpebras,
e a voz dos pássaros e das águas correr,
- sem que a recolhessem teus ouvidos inertes.
Onde ficou teu outro corpo? Na parede? Nos móveis? No teto?
Inclinei-me sobre o teu rosto, absoluta, como um espelho.
E tristemente te procurava.
Mas também isso foi inútil, como tudo mais.
E agora, como saberemos se ele morreu ou se teve um coração partido. Óra, é a mesma coisa.
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