Albino na Lavina

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quinta-feira, 7 de abril de 2011

Mário Quintana 2

História natural

O homem é um bicho que arreganha os dentes sem necessidade, isto é, quando nos sorri.

Mas é o único bicho que tem amigos, talvez falsos, mas tem.


Loteria

A loteria - ou o jogo do bicho, seu filho natural - jamais engana. Porque a gente não compra bilhete: compra esperança.

E perde-á na mesma hora que vê que não ganhou.


Libertação

A morte é a libertação total: a morte é quando a gente pode, afinal, estar deitado de sapatos...

Sem sujar, sem chulé, sem chingar, sem vida.



A vida

Mas se a vida é tão curta como dizes, por que é que estás me lendo até agora?

É, por que?


Madrigal

Ponhamos as coisas no devido lugar. Eu não faço versos a ti: eu faço versos de ti...

Por isso que é tão legal.


Vida social

O gato é o único que sabe manter-se com indiferença num salão. As outras indiferenças são afetadas.

Moral da história: vire um gato, ou gata.




Vovozinha

Morreu a nossa vovozinha Agatha. Tão ultrapassada... Morreu sem saber que as histórias de crimes que ela contava para nosso horror, no mundo inacreditável de hoje, eram histórias de fadas...

Deixa eu adivinhar: ela, vó Agatha, não era da Lavina.

Nostalgia

De vez em quando a velha memória tira uma coisa do seu baú de guardados. Hoje, está canção de um carnaval antigo:

" O meu boi morreu!
Que será de mim?"

Até vai brotar um poema. Sim...

O meu boi morreu...
Quem me cortará agora as unhas da minha mão direita?!

Não precisa fazer sentido. As vezes, 1+1=3.
Perversidade

Alguém me disse, com voz embargada, que agora, sim, estava convencido da existência de Deus, por que os trabalhos psicografádos de Humberto de Campos eram evidentemente dele mesmo.
- Mas isso não prova a existência de Deus... Prova apenas a existência de Humberto de Campos.

Na verdade isso não prova a existência de nenhum. Fé.

Um velho tema

Há mortos que não sabem que estão mortos - eis um velho tema desses relatos fantásticos ou fantasmais que agente lê sem cansar nunca. Como se não houvesse coisas muito mais impressionantes em nosso próprio mundo! Uma história, por exemplo, que começasse assim: há vivos que não sabem que estão vivos...

Então, não sei por que pocilgas ainda é 'obrigatório' ler o Memórias Póstumas do Brás.

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