Albino na Lavina

Você chegou, Albino na Lavina.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Remetente

Sou entregador de flores.
Não é nada de mais, mas existe um detalhe importante: não gosto de conversar. Convivo mas não converso. Apenas enxergo o mundo. Nem um oi, nem um tchau, nem nada.
Por isso entrego flores - faço isso sem falar.
Tóc tóc.
No bilhete dizia, "por que penso toda hora em você."
Volta e meia e continuar.
Tóc tóc.
No bilhete dizia, "para meu primeiro e último amor."

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNx1sDNm1pn9l2sFejh0bIjAfphHG-KIMK-Y0GFCXDXAmOMOStrHVxycqnYvlVp2tAxTGEl2vYbtw3hNc7hyt9Qd5GKsxuOvfCLfc_wG9IpMvDZNXQyMQwlUm-eihg94TFtXaoCIekjJ0/



















Seriedade na cara, risos histéricos por dentro: "como assim?  Como pôde escrever isso? Não se pode levar isto a sério."
Por isso ironizo. 
Por isso tenho recaídas de silêncio quase absolutos: me emudeço ao ver e ler tais afirmações.
Por isso entrego flores - faço isso sem falar.
Só entrego: vejo começos e términos. Vejo sentimentos e acontecimentos.
E tudo no meu mundo aparte, mudo e sem sentimentos.
E não é nada de mais, mas tem mais um detalhe importante: fico só no esperar por receber uma dessas surpresas, não pelas flores, mas pelo remetente.
Aliás, ninguém está pelas flores, mas sim pela caligrafia do bilhete.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Bússola e Mapa


- Deve ser algum engano, eu o conheço.
- Não houve engano.


http://verbeincarne.files.wordpress.com/2011/06/tumblr_l18eh2uxx91qabup9o1_500.jpg

Ela levanta-se - do modo inverso ao que sentia por dentro, calmamente, e vai em sentido da outra mesa.
- Não posso. Você sabe.
Ele sabia, só queria ouvir dela.
- Sim, eu sei, só não podia acreditar. Perdoa-me, não queria lhe assustar.
Sua resposta o fez desmanchar, por dentro. Choro com soluço.
Fazia-o chorar, em pensar que foi em vão. E além do mais, como poderia esquecer tudo? Como poderia recuperar a voz de suas cantorias? Como poderia cantar as mesmas músicas sem pensar em tudo? Como poderia pagar a corrida?

Uma vez lido que o tempo não cura feridas sentimentais, mas sim o amor, só esperava. Já que não tinha como pagar, e apagar o passado. Orou.
Hora de queimar o mapa, quebrar a bússola, e de ruar por aí.

sábado, 20 de agosto de 2011

Mapa e bússola


Ao acaso.
Chances quase nulas. Onde o talvez prevalece.
Mas não pode ser tão complicado: estamos no mesmo mundo. Sob o mesmo céu, vemos os mesmos montes ao fundo.
Mas mais perto que isso - ocupamos a mesma via.
Tão perto, e tão distante.
Tentando ultrapassar, cruzar a linha. Forço o motor. Tento alcançar.
Vou andando. Vou rodando.
Tudo isso por que não sabe que és o motivo da minha cantoria. Desafinada, feliz e interminável canção.
Não consigo nem te perder, nem esquecer. Sei de onde veio, e aonde vai. Meu mapa é detalhado e pontilhado.


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Uma hora, talvez demore - você vai precisar parar para beber, comer e abastecer. Então, sem disperdiçar minha perene mas única chance:

- Com licença, o rapaz daquela mesa, pediu que lhe entregasse esse bilhete, e o café...

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Esses mundos

No mundo vizinho ao meu, é estranho. Tem como padrão a frieza.
Uma frieza criada em laboratório. Experimentada em humanos, sem nem ao menos passar por testes em ratos.
Ingênuas pessoas: se ao menos tivessem visto como os ratos agiriam antes de dispersar a virose.
Em placas: o fim está próximo.
Gritos ao longe: estão criando monstros.
Murmúrios de perto: criaram monstros.
Todos acreditam, e continuam. Alguns até tentam salvar, mas, sozinhos na multidão.
Já vi morrerem outros mundos recem nascidos.

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/16/Milky_Way_galaxy.jpg
















Já vi outros desenvolverem. Alguns mundos particulares em que são imunes. Em que se mantem saudáveis. Ficam flutuando, como se fossem pequenos satélites naturais. Só observando de longe.

Criei meu mundo a algum tempo: fico preso nele. E por opção.
Pois eu que decido a temperatura dele - verão.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Começo. Meio. Final feliz.

- Estamos bem?
- Não se preocupe.
Não, ele nem respondeu. Sabia do futuro trágico. Mas tentou amenizá-lo. Mentiras sociais são válidas.
Tanto faz como foi: foi por amor. O que vem do coração é sempre certo. Precisa estar certo.
Sempre em frente foi o conselho que ele lhe deu. Ironicamente deixou ela sem escolha, fazendo-a regredir.
Corvos  já comiam há tempo esta coisa podre e velha. O amor desgastado e não alimentado, morreu. E de fome. Por desleixo.

Mas o fim vira começo. E logo aparece um outro curandeiro. Alguém com o dom da cura. Cura de graça. Mal de amor se cura com novo amor.
E dessa vez trate-o o melhor. Alimente-o bem para que quando ficar com fome, possa voltar, e que entenda que nunca deveria ter saído.
Que passe dia, semana e mês, e que não possa esquecê-lo. Que não possa perdê-lo. De novo.
Faço e repito isso sempre, por que gosto mesmo, é de finais felizes.

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Ou lava, ou joga fora. Ou lave-se, ou se jogue fora.